sexta-feira, julho 27, 2007

sete de setenta e sete

Não foi acaso que escolhi o 20-sete do sete de 2000-sete para, a desafio da arco-íris mais sua vizinhança, contar as 7 maravilhas do meu mundo e os 7 factos casuais da minha vida.

As sete maravilhas do meu mundo:

- o Mar e quase que arrisco que é maravilha para muitos mais. Gosto porque sim, ponto final. Quando se gosta consegue-se lá explicar? Seja a que hora for nunca se deixa adormecer, estranha vida que não descansa um segundo e nos tenta embalar na espuma. Pelo perfume, pelo sal, pela força que ora me leva e traz, pela paz d’alma quando falo com ele (bom ouvinte que bons conselhos me dá) e por não ter principio nem fim…
- um abraço, daqueles que nos colam o peito e nós sentir cúmplices;
- os amigos, nem sei se são muitos ou não, mas sei quem são. Aqueles com quem nem se dá pelo tempo correr e que afinal são os mais importante que a vida nos pode presentear;
- o pequeno-almoço na aldeia, depois do acordar com o cair da água no tanque.
Aquele monte em frente por onde vai espreitando devagarinho o sol da manha que quase se senta no meu banco de madeira corrido. O cheiro à terra ainda com orvalho, o silêncio interrompido por um galo que acorda…. e como sempre o pão quente com manteiga… Tudo isto que ainda me faz lembrar os fins-de-semana que em pequeno lá passava e quem em mais lado nenhum cheira igual;
- adormecer no sofá, no meu sofá. Ainda não consigo explicar o feitiço ou encanto mas sou sempre vencido. Já vou para lá resignado, como quem à partida vai à luta numa batalha perdida. Não podia ir antes para a cama, muito mais confortável? Não, claro que não, é lá que eu gosto de adormecer de pescoço torcido… Ando há mais de 2 anos a tentar ver o “Paris, Texas” e nada, nem a meio e quando acordo já me passou tudo à frente sem eu ver. Desconfio que sofro de algum caso clínico ou então é o raio do sofá…
- a minha vespa, pretinha como sempre quis. Só tem mais 10 anos que eu e manias de quem é maior de idade. Vamos sempre os dois e nunca nos zangamos, ora escolho eu, ora ela e lá vamos estrada fora… haviam de todos os companheiros de viagem ser assim;
- desculpem-me mas a minha 7ª maravilha, a que eu chamo de oitava, guardo-a só para mim, não levem a mal. Nem ela o sabe que é mas um dia eu segredo-lhe!

As sete casualidades do meu mundo:
- o à-vontade de quem se senta à mesa do café, sem rodeios e com muita gargalhada;
- o queijo em época natalícia! Adoro queijo todo o ano mas espero pelo natal para comer aqueles que cheiram mal;
- o sorriso aberto de quem não se vê há muito tempo e nos faz matar a saudade;
- a minha língua de fora e fazer caretas aos miúdos que andam dentro dos carros de bebé, e brindá-los com o jogo do gato e do rato pelos corredores do supermercado;
- abrir a persiana de manha e ver o regresso do sol depois de uma noite de temporal de Inverno;
- ouvir 10 vezes seguidas o mesmo CD no carro e no fim ainda nem saber o refrão, só me faz lembrar a minha fraca memória e que
tenho pavor de me ouvir cantar;
- escutar uma estória da minha avó ao jantar e olhá-la como se a estivesse a viver ali, mesmo sendo em tom de voz cansada.


terça-feira, julho 24, 2007

eu, o vento e onde o carro não vai


20:25, rua de cedofeita e ainda nem metade das pedras brancas calcadas.

Estranha paz que a cidade me dá em final de dia, com o vento que lhe corre em dias que se pediam de calor. Continuo a passo no aconchego das ruas que me viram nascer. As mesmas ruas, os mesmos passeios, as mesmas pombas mas num instante a cidade parece mudada, os sons e os cheiros de um final de tarde alegram-me os sentidos. Baralham-me. Todos desertam apenas ficando quem procura nos recantos de lojas já fechadas o conforto de um tecto.

Serão felizes quanto eu quando o vento lhes corre pela cara?
Nem notam a sua presença, nem a minha e passamos com indiferença.
Estamos apressados e para quem não faz contas ao tempo, somos mais uns para quem olham com olhos vazios próprios de quem há muita nem ali vive, e eu, e o vento, apressados.
Desço para a praça e somos três, junta-se quem me tem acompanhado nos últimos dias. Tem um sentido diferente a esta hora e no caminho que levo, faz-me crer que vou para lá.

“sabemos de um lugar onde nenhum avião vai
sabemos de um lugar onde nenhum navio vai

nenhum carro vai
nenhum carro vai
onde nós sabemos

sabemos de um lugar onde nenhuma nave especial vai
sabemos de um lugar onde nenhum metro vai

nenhum carro vai
nenhum carro vai
onde nós sabemos

entre um ponto de luz e o começo de um sonho

não quero que me puxem
não quero que me atropelem
iremos fazer isto em ordem
mulheres e crianças, vamos a isto, velhos amigos”

Arrisco um olhar e comprovo que o rio não secou, talvez seja por ali o caminho, o tal que me tem preenchido o imaginário de criança.
Sigo o meu ao ritmo de uma hora que espera por mim, jantar marcado num sexto andar. Afinal o caminho foi igual a tantos outros, nada de novo…

segunda-feira, julho 23, 2007

… acordar à janela


Bastante arredado das letras, escritas e lidas, vou tentar dar novo uso a estas folhas.

Não as do pecadito de ontem, chá de samba servido em jardim japonês no Soho do Porto! Com tanta ménage de latitudes teria de saber a musica... e a melão.
A voltar, no jardim que nos leva para longe e onde nos caem pequenitas flores atiradas por ramos cansados de tantas sombras!

“-tens uma flor no cabelo” – guardo porque ainda a torna mais doce. E contemplo o novo jardim que se fez mesmo nos meus olhos.

Também por lá havia uns quadros indianos e mil e uma latinhas de folhas secas que ainda mais longe me levam mas eu não queira era sair dali.
Mas o que me faz voltar aqui às letras não é o travo a melão, é este Sol que aos poucos regressa... devagarinho e que me faz acordar à janela. Quase me esqueci que me podia voltar a aquecer e a fazer rir. Seja lá o que for, ele vai raiando… todos os dias e próprio da época. E quando teima em não se mostrar eu peço por ele, como ainda hoje, que permitiu uma tarde de praia em dia de férias… espero eu.

“-tens uma flor no cabelo!” – sai-me num sorriso.